(Tributo a Sandra Guimarães)
"Neste direito não te entravo
Em vão não me comprometi
De qualquer forma sou escravo
Que importa, se de outro ou de ti"
Numa lógica truncada, Fausto acaba justificando sua escolha. E assim consegue a plenitude de sua curta existência trocando sua alma pelos seus sonhos.
Mefistófeles espreita sempre, ainda hoje, dentro de nós...
Não um capeta com rabo e cheiro de enxofre, mas encarnado nas bifurcações do nosso caminho.
Nas nossas escolhas.
O certo, o justo, o ético, o inclusivo, o nosso...
O fácil, o automático, o prático, o exclusivo, o meu...
Em cada pequeno ato, por mais banal que possa parecer, nossa consciência está posta em xeque.
E então penso em uma mulher comum: brasileira, nordestina, de uma família classe-média, que foi estudar na Europa e por curiosidade, um dia, fez uma viagem que mudou a sua vida: foi à Palestina.
Ela sou eu!
"Eu" no sentido amplo de ser mulher, brasileira, nordestina, e de acreditar, nesta minha soberba e como tantas mulheres daqui, não ter nada a ver com as dores de outras mulheres tão distantes.
Eu que, mesmo supondo não precisar saber sobre lágrimas que choram em outras línguas, levei um susto ao ouvir relato tão cruel: um piquenique com crianças palestinas de sete anos que terminou porque israelenses resolveram soltar seus cães doberman e acabar com a alegria infantil.
Meu peito doeu. Emudeci.
Incrédula me perguntei: como isso é possível?
Não foram eles os massacrados da grande guerra?
Não sofreram na carne as mais horrendas injustiças?
Como podem atacar crianças desta forma?
Então eu diria tratar-se de terroristas, diria ser guerra religiosa, diria que tudo por lá é violência, diria que por certo foi por segurança. Eu diria isto se não acreditasse no que ouvi.
E eu não acreditaria no que ouvi se não me fosse contado por alguém como eu: que não tem absolutamente nada a ver com palestinos e com israelenses.
Alguém exatamente como eu!
Sou eu que viajo em pensamento para aquele piquenique, e sentada com crianças de sete anos me divirto ouvindo suas histórias.
Sou eu que corro e vejo os pequenos subirem apavorados nas árvores, enquanto olho os ferozes dentes dos dobermans soltos propositadamente.
Sou eu que percebo que aquele grupo de israelenses tem-nos, a mim e a estas crianças, como lixo incômodo e fedorento.
É o meu grito de revolta que ouço agora, não o dela.
O susto que esta mulher me deu com seus relatos fez meus olhos perceberem Mefistófeles escondido no meio do meu mundinho tão "normal".
Não posso mais me iludir, a Palestina está dentro de mim.
Está dentro de nós!
A vida está nos dando um xeque e pedindo nossa atitude.
As vezes jogamos bem.
As vezes xeque-mate!
Crônicas do dia-a-dia e alguns pensamentos. A vida cotidiana tem muitas histórias que merecem ser contadas.
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Namastê. O Christo que habita em mim saúda o Christo que habita em você.
ResponderExcluirandré frej