_ Você é a dona da rua? - gritou a mulher do banco do carona no carro.
_ Sou! - respondi de supetão, em cima de minha bicicleta.
No entanto responder isso me fez mal, e vou explicar...
Estávamos numa rua com três faixas de rolamento. A da esquerda era
usada para estacionamento. A da direita tinha um carro parado com o
pisca-alerta. Tive que passar pela faixa central, com minha bicicleta.
O casal, que vinha de carro, foi obrigado (a não ser que me
atropelasse!) a esperar que eu ultrapassasse o carro do pisca-alerta.
Esta espera, que foi mínima, provocou na carona esta reação.
Pois bem, comecei o dia hoje pensando sobre sua pergunta: sou eu a dona da rua?
Ou é ela a dona da rua?
Ruas têm donos?
Ela pode retrucar com o único argumento que pensa que a faz "dona" da
rua, o IPVA - Imposto sobre a propriedade de veículos automotores.
Arrogância e ignorância neste retruque, diga-se de passagem. Os bilhões
arrecadados com o IPVA tem como objetivo beneficiar toda a sociedade em
áreas prioritárias da atuação do governo. Saúde, educação, segurança,
saneamento e, sim, infraestrutura também! O IPVA não lhe dá posse de
coisa alguma. O que o IPVA lhe faz é ser partícipe de tudo que favoreça a
todos. A todos, entende???
De qualquer modo, este argumento do
IPVA (verdadeiro ou não) tem uma consequência devastadora: nos dá a
ilusão da posse de tudo o que pagamos e faz do dinheiro nosso senhor e
mestre. Coisifica pessoas, sentimentos, ações, destinos. Nos cega para a
única pergunta válida nisso tudo: o que é a rua?
O que é rua? Para que serve?
Essas são as perguntas fundamentais!
Ruas ligam pontos para as pessoas transitarem. A rua serve para que uma
pessoa saia de um lugar e chegue a outro, não importa como vá.
Rua é caminho!
E caminhos são percorridos de nossa própria maneira. A pé, de bicicleta, de carro, de ônibus, de patins, de cadeira de rodas...
O dinheiro não pode usurpar do caminho a função de ser passagem de pessoas.
É preciso cuidado!
Viver é preciso cuidado - diz o poeta.
Nosso coração, nosso espírito, nossa energia, o Amor Universal que nos
habita não pode ser guardado numa caixa de ouro - ou de lata com pintura
metálica - que compramos com o "nosso" dinheiro, porque de nosso mesmo
só temos o amor que damos.
Perdemos a felicidade, a paz, o convívio,
o sorriso, o afeto, quando tentamos colocar a imensidão que somos nesta
caixa, e não olhamos o outro. Não percebemos o caminho.
Irmãos, estamos na mesma estrada.
Somos companheiros de jornadas onde o destino é o infinito.
Esta rua não é minha, nem sua, nem tem dono, ou melhor, tem todos os donos possíveis: esta rua é nossa!
Nesta rua, nesta rua tem um bosque... mas não precisa se chamar Solidão.
Crônicas do dia-a-dia e alguns pensamentos. A vida cotidiana tem muitas histórias que merecem ser contadas.
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