Edilson trabalhava no Banco do Brasil, na época que
trabalhar em banco era top de linha. Jovem, ainda solteiro, natural de Recife, foi
lotado em Itabaiana, no estado da Paraíba.
Este era seu primeiro emprego e ele estava bem feliz.
O banco era simples, suas instalações não tinham o
glamour capitalista de hoje.
Há quase 50 anos atrás não existia muita disponibilidade
de prédios nos Reinos Encantados deste Brasil.
No piso térreo do pequeno imóvel funcionava o banco
propriamente dito.
O primeiro piso era o alojamento dos funcionários formados
exclusivamente por homens.
O vão era preenchido com beliches e alguns armários e,
neste ambiente, sete almas dividiam o espaço.
Num canto do alojamento existia um quadro-negro e alguns
pedaços de giz. Ninguém sabia ao certo a sua origem, de vez em quando alguém
colocava algum recado e mais nenhum uso era destinado àquele painel verde.
Severino, o encarregado da limpeza, era um homem simples.
Sério, de poucas palavras, nutria em seu coração uma vontade secreta de
aprender coisas novas. Queria falar inglês!
Um dia encheu-se de coragem e pediu timidamente para
Edilson ensina-lo alguma coisa deste idioma. Edilson disse que faria mais, muito
mais, que lhe daria aulas todas as tardes, na hora do seu intervalo no
expediente do banco.
E assim, durante mais de dez meses, todos os dias Edilson
escrevia palavras no quadro e explicava o idioma para Severino que, sempre
atento, anotava tudo no seu humilde caderninho comprado para este fim.
Após a aula, tudo era apagado, e ninguém sabia da
atividade paralela de ambos.
Severino estudava ardentemente, agradecido com a bondade
do colega que nada pedia em troca.
Como pagar tamanha disposição em ajudar?
Severino fazia todo o possível para dar-lhe uma contrapartida.
Limpava sua mesa com capricho, carregava seus malotes, comprava seus cigarros,
e mesmo assim sempre achava pouco o que fazia pela disposição com que Edilson
perdia quarenta minutos diários ensinando-lhe o Inglês.
Um dia Edilson foi transferido para Fortaleza.
Severino ficou muito triste. Já estava tão bem no idioma.
Já sabia tantas palavras.
Que pena!
Carlos Henrique foi lotado no lugar de Edilson. Também letrado,
o rapaz era inteligente, quem sabe não podia ajuda-lo?
Não tanto como Edilson, que tinha um coração enorme, mas
poucas palavras mais já seriam suficientes.
Severino resolveu mostrar-lhe o seu caderninho para que
ele visse o quanto ele era esforçado.
Carlos Henrique olhou então suas anotações em inglês com
as respectivas traduções:
VRUGITA PESSINA GOTUILAQUE FROTILIS (tradução: preciso ir
ao dentista)
GRISU GOTUILAQUETE (tradução: nós precisamos)
MIHATADOR TRIICOPRA CUAUBRE OJISUIFA (tradução: o
dinheiro não é suficiente)
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