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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

PAU COM SAL GROSSO.


Estava na fila do supermercado, sozinha.
Na minha frente três rapazes de menos de vinte anos carregavam uma garrafa de whisky barato. O viço da juventude fazia quase exalar um perfume de pura alegria no ambiente.
Eles falavam besteiras maravilhosas que eu fingia não ouvir, mas que se transformavam num elixir de energia saudosa em meu coração.

“Este Stiksy é um pau com sal grosso.”

Perfeita definição para o pior salgadinho do mundo. É salgado demais e totalmente massento. A aparência por si só já é enjoativa. O famoso “bate-entope”. Caro, ruim e ninguém consegue comer um só, o que é uma verdadeira maldição.

“Eu pensei que o cara era um idiota, mas depois vi que ele curte o mesmo som que eu. Tem bom gosto! Pensei até em chamar para a minha banda”

Que pérola de narcisismo! Se curte o meu som, não é mais idiota. Ele tem razão... Curtir o mesmo som é condição sine qua non para uma boa convivência.

“Uma menina uma vez me falou que eu era burro, mas bonitinho. Adorei, porque prefiro ser burro e bonito à inteligente e feio.”

Certíssimo!
Com vinte anos é muito melhor ser bonito.
Mas será que com vinte anos alguém é feio?
Mesmo com espinhas na cara, com o cabelo rebelde, magro, gordo... a juventude tem viço. A juventude tem sonhos. Os horizontes são enormes, limpos, cheios de possibilidades.
Ninguém é feio aos vinte anos!
O poder da juventude é a melhor maquiagem do mundo, a roupa mais cara, o perfume mais delicioso.
Se eles tivessem a consciência exata do que é os vinte e poucos anos, conquistariam o universo.

E então, um amigo meu veterinário me contou que foi visitar uma cliente que tem dois cachorros Lulu da Pomerania. Ela tem perto de noventa anos e é odiada pelos vizinhos.
Ódio totalmente fundamentado no fato que os cachorros dela latem o tempo inteiro, incomodando a quadra inteira e ela, surda como uma porta, não acredita ou não liga.
O fato é que ninguém tem coragem de denunciá-la. Quem vai tirar de uma velha solitária os dois únicos motivos de sua existência?
Afunilaram-se os horizontes da idosa, e os anos soterraram o viço.
Meu amigo, ao entrar na sala, percebeu que sua cliente estava com as pernas pra cima e que no seu joelho jazia um comprimido.
Ela justificou o fato:
“Eu estava com dor no joelho e o médico me mandou tomar este remédio. Mas eu pensei: porque tomar o remédio se a dor é no joelho? Resolvi que era melhor colocar o remédio logo no joelho!”

(...)

Sabe de uma coisa, hoje descobri que a infância volta com o passar dos anos.
Um dia seremos novamente dependentes, bobos, ingênuos, puros...
Um dia pensaremos que basta colocar uma pírula no joelho para que a dor passe.
E todos ao nosso redor rirão de nós, como riram de nossas primeiras gracinhas.
É como um colar em que as pontas se unem para fechar o ciclo.
Infância-velhice.
Mas o viço dos vinte anos jamais volta.
Este é o pingente da jóia. Único e precioso.
O resto... bem.... o resto é pau com sal grosso.

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