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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O RIO IMUNDOU.

Durante trinta anos de minha vida eu falei que o rio tinha imundado.
Quando tinha enchente, o rio imundava tudo.
E durante estes trinta anos não tive nenhum amigo, parente, conhecido, desconhecido, inimigo, nenhum ser humano que me mostrasse o erro, ninguém nunca me corrigiu!
E eu bradava em alto e bom som:
Teve uma IMUNDAÇÃO por lá...

Eu não estava totalmente errada, afinal de contas!
Quando a porcaria do rio enchia, tudo ficava realmente imundo.
Lixo por todo canto, lama em todo lugar, leptospirose, ratos, baratas.... Um nojo!
E durante trinta anos eu tinha a certeza absoluta que quando o rio enchia, o rio realmente imundava tudo.

Até que, um certo dia, fui a um curso de oração.
Eu devia estar numa fase de pureza, e estava me esforçando para ser uma pessoa melhor.
Lá pras tantas a professora (ou a instrutora de oração) começou a rezar.
Eu, de mãos postas, concentrada nas coisas do alto, prestava toda atenção do mundo. Ela dizia:

“Vamos nos INUNDAR do Espírito Santo! Bla bla bla, bla bla bla, e vamos nos INUNDAR do Espírito Santo”

Aquilo começou a me incomodar.
Pensava: Cara! Que mulher burra! Fica falando inundar em vez de imundar...

E foi-se minha concentração nas coisas do alto.
Tudo externo em mim era falsidade. Aquele ar angelical. Aquelas mãos postas. Aquela falsa concentração.
Por dentro só conseguia pensar que a mulher era burra e que aquela história de inundar estava me incomodando.
Mas depois pensei mais: Sabe de uma coisa, não cai muito bem nós nos imundarmos do Espírito Santo.... E Espírito Santo é lá imundice pra gente se imundar Dele? Que falta de respeito seria, heim? Que coisa mais esquisita! Bem, devem existir as duas palavras então...


“Vamos nos INUNDAR do Espírito Santo! Bla bla bla, bla bla bla, e vamos nos INUNDAR do Espírito Santo”


Cara, que mulher idiota é esta?

Acabou-se o curso de oração. Pelo menos neste dia.
Não conseguia mais parar de pensar em imundar versos inundar.
Cheguei em minha casa ávida por um dicionário.
Catei a letra I...
INUNDAR... Encher, fartar, submergir um terreno por transbordamento de águas.

(...)

Não me dando por vencida, catei IMUNDAR...
Imundar... imundar... imundar...
Nada!
Nadica de nada!
Descobri, consternada, que a burra era EU!
E descobri também que tenho um monte de amigos/parentes/conhecidos/inimigos falsos! Como podem ter deixado que eu passasse trinta anos da minha vida falando esta merda??!!
Isso é tão grave quanto deixar uma amiga com uma casca de amendoim no dente, na frente do paquera, se acabando de rir, e não falar nada.
É quase tão grave quando deixar uma irmã com uma catotona (traduzindo: melecona) no nariz enquanto toma banho de mar... falando com todos os amigos.
Isso realmente não se faz!

Nunca mais na minha vida eu disse que o rio tinha imundado!
Mas que quando ele enche imunda tudo, ah! queridinho, imunda mesmo!

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