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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Maria, Maria


Um dia perguntei a minha mãe como era perder uma mãe.
Olhávamos o mar, na varanda de nosso apartamento.
E ela respondeu: você vai sofrer, você vai chorar, mas depois vai seguir a sua vida...
E continuamos a olhar o mar.
As palavras eram desnecessárias.
Minha mãe estava perdendo a luta contra um câncer, mas nunca perdeu a força de ser Maria.
Mulher que nasce com a marca da vida em suas entranhas.
Maria, Maria é um dom.
E ela tinha razão.

Então hoje uma mulher veio falar comigo, no meu trabalho.
Parecia uma freira vista de longe. Vestia uma túnica, e cobria seus cabelos com um manto branco. Tinha o olhar doce e uma voz calma.
Entrou na minha sala, olhou nos meus olhos e disse:
“Vim pegar a minha menininha.”
Meu coração encheu-se de carinho.
Quem seria a menininha?
Respondi que eu não podia dar a menininha dela, e que talvez, em outro dia, ela a encontrasse.
A sua Maria foi soterrada pelas magoas? Pelo abandono? Pela dor? Pela doença?
A menininha dela talvez não estivesse tão longe... talvez estivesse em seu coração e não se tornou mulher, não se tornou Maria.
Tantas Marias mortas pelo medo, pela solidão, pelo preconceito, pela força bruta da maldade.
Tantas Marias infantilizadas, que não falam, miam.
Tantas Marias perdidas, vivendo vidas em novelas.

Hoje sei que...
É preciso ter manha...
É preciso ter graça...
É preciso ter sonho... sempre...

Sempre, e sempre.
E não há escolha.
Não há volta.
A vida não espera.
Chorei, e ainda choro, sofri, e ainda sofro, mas sigo a minha vida, pois a marca da Maria que trago no corpo aprendeu a misturar a dor e a alegria.

Pois quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida.

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