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domingo, 11 de julho de 2010

Eu tento buscar o corpo...

Quando eu estava cursando o segundo ano de arquitetura tive uma crise com a minha futura profissão.
Comecei a pegar alguns projetinhos de ambientações (decoração) e perdi o encanto.
Não conseguia ver sentido em ficar buscando o belo de forma tão ostensiva.
Achava estranho tantas “futilidades”. Um sofá liiiiiiiiiiiiiiindo de morrer, mas que custava 20 vezes mais do valor que um gari ganha por mês. As mulheres preocupadíssimas com os puxadores das gavetas, que também eram caríssimos. E ainda me faziam ir escolher estas coisas em pleno sábado de sol... Detalhes tão idiotas que me davam repugnância.
Pensei em largar tudo e fazer outro curso. Mas não podia deixar arquitetura e fazer outra coisa, pois não tinha dinheiro pra passar mais seis anos numa faculdade e ainda arrumar dinheiro pra um cursinho pra o vestibular.
Enfim, fui levando arquitetura neste segundo ano.... até que o melhor amigo de um namoradinho meu me falou uma coisa que mudou isso.
Ele disse: Miki, arquitetura não é futilidade. TODOS deveriam ter acesso ao trabalho de um arquiteto. Todos deveriam morar em casas projetadas, com conforto e beleza. Mas o fato de que nem todos tenham acesso a isso não significa que isso é fútil. Devemos lutar por um mundo mais justo, e não desistir da arquitetura.

Pois bem, comecei a ver arquitetura de outra forma. E ainda bem que a crise passou, pois amo ser arquiteta, mesmo que atualmente trabalhe num cartório no Reino Encantado de Mucinho.
Confesso que nunca gostei de ambientações. Não tinha paciência pra escolher puxadores de gavetas e similares. Não sou “fresca” o suficiente pra entrar neste mundo. (Sabe o que é ser fresca? Ou isso é um termo pernambucano?)
Na verdade nunca achei que ambientações (decoração) fosse arquitetura.
Arquitetura é aquilo que está acima da moda... é o prédio que, mesmo sem cuidado ou pintura, mesmo abandonado, continua lindo. Arquitetura é a pessoa, ambientação a roupa.
Uma pessoa bonita pode estar vestindo molambos e continua bonita. A roupa melhora o conjunto, não vou negar, mas é pouco comparada ao corpo.
Enfim, depois de passar por isso, e por muitas outras coisas, comecei a colocar as minhas vaidades no lugar delas. E também comecei a ir além das vaidades das pessoas que conheço, ver o corpo por baixo de tantos disfarces.
Costumo dizer que daqui há 50 anos todos que eu conheço serão saquinhos de ossos e que pouco importa o puxador de inox da gaveta.

Ontem uma amiga minha disse que queria ir de bicicleta para o trabalho, mas que achava ridículo ela, de 40 anos, ir para o trabalho pedalando.
Que importa isso? Daqui há 50 anos – argumentei – você vai ser um saco de osso e talvez, com sorte, alguém lembre de você... mas tenho certeza quase absoluta que ninguém vai lembrar da sua bicicleta. Por isso: “vá simbora” e compre sua bicicleta!

Eu penso assim: gosto de coisas boas. Gosto de bons perfumes. Gosto de boas roupas. Gosto quando posso comprar algo pra deixar minha casa mais bonita. Mas tenho consciência que tudo isso é apenas “roupa”. E eu tento buscar o corpo...

3 comentários:

  1. É a velha questão entre a forma e o conteúdo, em geral valorizamos o que vemos superficialmente, na empresa que trabalho no centro de Curitiba, depois de muita reinvidicação, implantaram um bicicletário no prédio, muita mobilização, depois de um mês só sobrou um usuário.
    Muita dondoca se candidatou a uma vaga só para bonito, de onde que uma mulher daquelas que só anda de sapatinho bicofino vai pegar uma bike para ir ao trabalho?
    Mas o que mais me impressiona são os olhares estranhos, assim como discriminando o ciclista.
    Na Europa é a coisa mais comum o uso da bicicleta, além de ser ecológico é altamente salutar para a saúde do ciclista, um exercício diário, além de ser gostoso.
    Bom, eu não estou nem ai, ainda bem que tem um bicicletário por lá, estou em forma e vejo muito conteúdo nisto.

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  2. Eron, é exatamente isso.
    De uma certa forma, talvez mudando um pouco, mudamos o mundo.
    "Quem não tem medo é livre".
    Muita gente tem medo do ridículo, e a vida é uma chatice.
    Viva as bicicletas!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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