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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Maxixão Perfumado.


Eu reclamo, mas acho que é só pra ser do contra.
No fundo, gosto do meu Reino Encantado de Mucinho.
A vida corre lenta.
Tem sempre um bêbado que eu tenho que botar pra correr toda segunda.
Segunda é dia de feira na cidade. Lotam de gente as duas ruas principais desta metrópole.
Sempre tem algum pinguço que quer fazer um documento porque perdeu.
E então, sempre sobra pra chefe (neste caso eu).
Penso: cara de pau! Numa segunda pela manhã e já está neste estado. Dá vontade de dar uns tapas e depois dizer que ele caiu da escada...
Faço cara séria. O povo tem medo de mim, sabe-se lá por que.
Devo ter cara de quem não leva desaforo pra casa, ou algo assim.

Lá pras tantas, pego minha sacola reciclada e vou também pra feira.
A feira tem de tudo.
CDs de lançamentos musicais (da pior qualidade). Calcinha preta, garota safada, chupa que é de uva, senta que é de menta, eu tô atoladinha... (ou mais ou menos isso).
Barraquinha com pneus recauchutados de bicicleta.
Goma pra tapioca. Do lado, a barraquinha que vende coco ralado. (Uma facilidade!)
Bolachas e tarecos.
Penicos.
Queijos.
Chuchus, quiabos, cenouras.
Abacaxis (caríssimos).
Mangueira pra fogão.
Mangas, limões, mamões.
Calcinhas, calçolas, calções.
E o meu amado maxixe.

Semana passada fui enganada.
Comprei um molho de maxixe a um real. Pequenininho de dar dó.
Lá na frente achei um molho de maxixão, um real!
Só por desaforo, comprei de novo.
Nesta semana fui esperta. Catei logo o maxixão.
A bolsa reciclada estava tão pesada quanto os carrinhos de mão dos moleques que levam as compras pras dondocas do Reino Encantado.
Sou valente! Carreguei tudo sem reclamar.
Estava feliz pelo maxixe, esta é a verdade!
Mas chegando ao trabalho, tinha uma emboscada me esperando....

A sobrinha do oficial de justiça, de 10 anos, queria falar comigo.
Sacou da sua mochila um mostruário de perfume "francês".
Quase legítimos, garantiu.
"Escolha um" - ela me propôs.
Escolhi.
Ela então, sabiamente, destacou um papelzinho, molhou no perfume, balançou, passou pelo seu próprio nariz num movimento de mariposa lânguida, e me entregou.
Nunca cheirei um Chanel nº 5 tão forte!
Perguntei quando era.
A pestinha olhou pra mim e disse: quanto você pagaria numa loja de importados?
Bem - respondi - um Chanel pequeno... talvez uns duzentos reais.
(Pensando com os meus botões que eu ia acabar tomando no papeiro com esta candidata a futura dona de rede de supermercados).
Ela retrucou: pois aqui você vai pagar 55,00 reais por um de 50 ml (emielis). 36,00 reais por 30 emielis e 30,00 reais por 20 emielis.
Achei uma graça o "emielis".... pensei que se dizia apenas emieli. Preciso ver se passei 44 anos falando errado isso também.
Escolhi outro.
Noa.
Outra vez ela fez a história da mariposa.
Novamente quase morri com o cheiro.
E pra resumir o babado, fiquei com 20 emielis do 212 woman a 30 reais. Uma pechincha!
Qualquer coisa repasso pra minha funcionária do lar como presente de Natal.

E então percebi que novamente fui engabelada.
Uma semana é com maxixe, outra é com perfume quase francês.
Queria ser igual ao meu chefe.
Dizem a boca pequena que quem conseguir vender alguma coisa pra ele, é capaz de vender gelo pra esquimó.
Infelizmente ele está de férias, mas vai ter o momento que ele vai pegar esta tal Alana de frente e então eu quero ver como ele se livra desta mariposa.
Briga de titãs!

E assim, com meu maxixe perfumado, vou começando a minha semana...
No Reino Encantado.
Tenho pra mim que sei lidar melhor com os trombadinhas de Recife do que com o olhar predador de uma matutinha de 10 anos.

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