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domingo, 22 de agosto de 2010

NUM DOMINGO.... DE 2006.

Mamãe estava com dor... começou cedo. Tomou vários remédios e nada. Liguei para o oncologista, depois de tentar mil vezes, pois o seu telefone só dava ocupado.... a resposta dele foi bem objetiva, não tinha o que fazer. Se a dor piorasse, levasse para o hospital.... teria que tomar morfina.
Lá pras tantas ela quis ir para o hospital... Ok! Troquei de roupa e já estava com as chaves na mão quando ela me falou que a dor estava passando.... e passando... e passando....
Ela dormiu.... e o meu sono passou. Meia-noite e lá vai conchinhas e eu completamente sem sono.

Liguei a TV.... e tive uma agradável surpresa: um especial de Chico Buarque.
Ele estava em Portugal e falava sobre sua vida como escritor.

Começou falando sobre "Estorvo", livro que eu não li.
Mas ele também falava sobre o que era ser escritor.... o que era ser escritor sendo um compositor.
Chico é Chico! Com aqueles olhos azuis maravilhosos e um sorriso meio tímido.
Ele tem a cara do Rio de Janeiro... um certo ar malandro.

Depois de Portugal, ele foi para Budapeste, falar sobre "Budapeste", seu último livro.
Este tentei ler....
Tentei, é verdade... E como tentei!!!!!!
Acho Chico genial.... ele tem letras de música que me fazem ficar de boca aberta... pensando como ele consegui fazer isso... Uns trocadilhos, umas rimas...
Então, por amá-lo como compositor, me obriguei a amá-lo como escritor. Tenho que confessar que não consegui....
Não tenho a síndrome de ser "cabeção" e falar o que não sinto só porque é o que todos esperam de alguém "culto" ou qualquer coisa desta.
Odiei o livro "Budapeste". Consegui chegar à metade nem sei como.... e depois larguei mão.
Não tenho que sofrer por causa de um livro.
Livro tem que ser como namoro..... a gente tem que estar apaixonado, tem que dar prazer.... tesão.
Não iria acabar de ler um livro só porque o autor é Chico Buarque, isso, apenas, não é motivo suficiente.
Preferia ler um livro de um Fulano Anônimo se ele me cativasse.
E leria mil vezes....

Mas gostei de ouvir Chico falando sobre o livro, sobre sua vida como escritor.
Achei super interessante quando ele falou que escreveu o livro sem conhecer Budapeste... mas que isso não era necessário.
Aí falou de inúmeros filmes que mostram o Brasil (mais particularmente o Rio) e quando a gente vê acha uma porcaria porque não tem nada a ver com o Brasil, muito menos com o Rio de Janeiro.
É verdade!
Quantas vezes retrataram o Brasil como uma selva? O Rio de Janeiro como a cidade da macumba? Ridículo para nós, brasileiros.... Mas quem disse que um autor tem que ser fiel a verdade?

Concordo com Chico.
E aí lembrei de outro livro que li faz pouco tempo.... e li muito por causa de From (um grande amigo).
From ama Gabriel Garcia Marquez e eu nunca tinha lido nada dele.
Devia ter começado por "Cem anos de solidão" (que dizem ser maravilhoso)... mas comecei por "Memórias de minhas putas tristes".
Odiei o livro!
Caracas! Um velho de 90 anos com um caso com uma menina de 15!!!!!!
Já comecei achando o velho um grandíssimo filho da puta tarado.
Depois comecei a sentir nojo de tudo que o velho fazia ou falava.
Se ele dizia que o céu era azul, eu ficava logo querendo arrumar briga com ele pensando em defender que o céu era amarelo.
Ainda por cima o velho era brocha e só ficava cutucando a menina com a mão e a boca, que imagino ser murcha e babona.
Ah! Tenho paciência pra isso não!
Li o livro até o fim pra ver se o velho safado morria... e o velho não morreu!
E agora? Agora não tenho mais coragem de ler Cem Anos de Solidão.

E é nessas horas que vejo o quanto escrever é difícil.... Não escrever pequenas crônicas, porque isso é até fácil. Escrever um livro, montar um personagem, uma situação.... dar vida ao que nem existe. Interagir com o leitor....
E penso nos livros que me marcaram.....
Livros como "Os três mosqueteiros", de Dumas.... que li quando era menina e me apaixonei por D'Artagnan. O livro era enorme, eu devia ter uns 10 anos... grudei e só larguei quando terminei... e depois deu uma saudadeeeeeeeeeee.
Os livros de Machado de Assis que adoro!

E aí o povo vem me falar de livros de auto-ajuda. Poupe-me!
Odeio esta coisa de colocar um monte de frases bonitinhas e agradar porque é o que o povo quer ouvir.... coisas do tipo: viva o presente, porque o passado já não existe e o futuro pode não existir.
Sim, isso é mesmo uma verdade, em termos!
Só que as coisas não são assim tão fáceis, as coisas não são feitas para ser uma receita de bolo.
O passado não existe, em termos.... porque somos o nosso passado também. O futuro não existe em termos, porque viver sem sonhar é uma bosta.
É verdade que a única coisa que temos realmente é o presente.... mas quer saber, pensar assim é tão.... tão.... tão pequeno.
Posso mudar toda a minha vida a partir de agora, mudar de cidade, de profissão, de religião, de cor do cabelo, etc, mas terei em mim Recife, arquitetura, cabelo castanho....
Posso morrer daqui a 2 minutos, é verdade. E se morrer, não acredito que minha história tenha terminado. Então qual é o drama de viver o todo, e não apenas o presente?

Duas da manhã... Nossa!
E eu com este papo Odara!
Sabe de uma coisa?! Vou assaltar a geladeira.... é mais negócio!

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